Nesta terça-feira (3) foi ao ar o quinto episódio do podcast “2 Lads” de Daniel Sharman e Leggy Langdon. Confira a tradução completa do episódio “PSICODÉLICOS” e escute a conversa entre esses dois caras:

Neste episódio de 2 LADS, Leggy e Daniel discutem suas próprias experiências com psicodélicos, bem como com o uso de outras drogas, vício e, subsequentemente, sobriedade. Com os psicodélicos sendo um tópico quente no momento, eles falam sobre como o processo de “jornada” pode ser útil, se os passos certos forem dados após a jornada.

Eles também discutem como a dor pode ser um indicador de trauma; e como nossa força vital inata ou ‘eros*’ fica entorpecida ao longo do tempo por experiências dolorosas. Junte-se aos caras em uma conversa sobre como eles encontraram uma maneira mais saudável de enfrentar seus próprios demônios e trabalhar para curar. | *EROS: conjunto de pulsões de vida .

Daniel: Olá, seja bem-vindo ao podcast 2 Lads de Daniel Sharman e Leggy Langdon. O podcast 2 Lads é um lugar para vir e ouvir sobre tópicos que você pode não ter ouvido homens falarem francamente e intimamente sobre. É direto ao ponto, cru e é honesto em um mundo de turbulência contínua e mudanças constantes. Faça uma pausa de 30 minutos, venha ouvir esses dois rapazes em uma conversa profundamente vulnerável que está em andamento.

Leggy: É como anestesiar seu trauma para que você possa praticamente falar sobre isso de uma forma fluida, que você não é capaz de fazer apenas, sabe, na vida cotidiana. Foi quando eu senti que, para usar sua frase como entendi, porque foi: “oh uau, isso é muito mais poderoso do que apenas ficar chapado ou sentir-se conectado, sabe?” Foi como um estouro.

Mostra as coisas que você não pode ver dentro de si, ele o orienta para quem você é por baixo de todas as barreiras que você cria como ser humano quando você comete erros ou sente dor. Você meio que constrói essas paredes ao redor dessas coisas, então você meio que tenta não fazer
novamente, e havia algo neste processo. Foi como se houvesse um acesso a um sentimento corporal armazenado da minha infância, que para curá-lo, você tem que entrar nele. Então, aqui está uma maneira de fazer isso.

Leggy: Olá, eu sou o Christian ‘Leggy’ Langdon.
Daniel: Olá a todos, meu nome é Daniel Sharman, e este é o podcast 2 Lads.

Leggy: O episódio de hoje é sobre uma jornada que Daniel e eu discutimos nossa experiência usando medicamentos de planta, ou mais comumente conhecidos como psicodélicos. Em primeiro lugar, o que é a jornada? Bem, essencialmente é usar medicamentos de planta para ajudar a descobrir a sua conexão com nossos “eus” inconscientes, algo que não é fácil de ver na vida cotidiana. Acreditamos que esse método ajuda a descobrir nossas raízes profundas, traumas e feridas que desenvolvemos ao longo de nossas vidas. Esta certamente não é a única maneira de alcançar isso, mas estamos apenas discutindo por nossa própria experiência, não recomendo este método particular para todos. Nós levamos vício e saúde mental a sério e nós apenas recomendamos esse método se você foi chamado para isso. Também gostaríamos de enfatizar que não é usar drogas para ficar chapado. Usar medicamentos com intenção e supervisão traumática define esta prática para nós.

Daniel: Tudo bem, chega de mim, vamos entrar nisso.

Leggy: Ok, então vamos falar sobre a jornada hoje. Muitas pessoas não vão saber o que é isso, tudo bem, então, é uma coisa e tanto, não é?
Jornada, ou seja, plantas medicinais ou drogas. Usar drogas conscientemente como ferramenta para acessar o inconsciente seria uma maneira de fazer isso. Cogumelos sassafrás, ácido ayahuasca, 2cb, o tipo coisa que altera a mente, psicodélicos e remédios para o coração que são chamados de remédios no comércio, mas que essencialmente são drogas, como você quiser chamá-los. É apenas uma palavra. São as drogas que alteram a mente, sim, que é o espectro do uso de drogas, que eu saiba. O uso inconsciente e o uso consciente disso é realmente o que vejo agora como [drogas].

Eu sempre tive drogas na minha vida de alguma forma, desde criança, apenas experimentando drogas até esta jornada de trabalho em que estivemos bem envolvidos.

Daniel: Vamos conversar, vamos falar sobre, eu quero saber como você chegou a isso, sim, teve um efeito profundo em nossas vidas, e na verdade, estamos fazendo este podcast alguns dias depois de uma jornada que foi profunda para nós dois. É a razão pela qual estamos fazendo este podcast. Como você chegou a isso?

Leggy: Então, foi através da minha ex-esposa e acho que, parte disso era uma continuação do meu próprio trabalho em mim que começou após, ironicamente, eu ficar sóbrio. Então, comecei a usar drogas depois que fiquei sóbrio. Esses não são realmente usados no tratamento de vício, quero dizer, olha, fiquei sóbrio por causa das drogas e do álcool, cigarros todas essas coisas.

11 anos atrás e por um bom tempo, cinco anos, talvez, eu não fiz nada,sabe, eu estava totalmente sóbrio, mas comecei a fazer terapia. Terapia individual e terapia de casal com minha ex-esposa, então nós estávamos em uma jornada, por assim dizer, de auto-exploração. Eu penso que, quando alguém fica sóbrio, então quando desliga um mecanismo que eu estava usando para aliviar a dor, para entorpecer a dor inconsciente, psicológica. Eu sempre usei drogas para fazer isso inconscientemente, desde que eu era criança, então de uma forma estranha eu tenho viajado toda a minha vida, mas nesta primeira parte da minha vida era inconsciente e era apenas sobre dor, remoção da dor, desligando o que, na noção de alívio, te dá alegria, então é isso que aconteceu comigo quando eu usei drogas. Era como se a automedicação fizesse me sentir tipo: “ah sentir-se normal deve ser assim”. Quando você desliga a dor, você pode entrar em uma sala com pessoas e ficar sem ansiedade e ter confiança e ser quase um amor-próprio, desta forma simulada, mas assim, totalmente inconsciente, seria apenas como você pegar essa coisa, você vai e “ei, eu me sinto incrível”, sabe?

Daniel: Também foi assim quando uso as drogas…

Leggy: Minha experiência com drogas até ficar sóbrio sempre foi um dos momentos incríveis, e então a pós-experiência sempre foi horrível, e piorou com a ressaca. A descida, o produto químico, o desequilíbrio de ir super alto e aumentar toda a sua serotonina e todas essas coisas para se sentir incrível, então a física disso é que você tem que restaurá-lo, e então você não tem mais nenhum e se sente como um merda por três dias ou qualquer outra coisa, que fica cada vez pior à medida que você se perde no vício disso.

Avance para minha ex-esposa, fomos ao Peru experimentar ayahuasca, a mãe das plantas medicinais hardcore. Os peruanos têm feito isso por séculos. Era como se fosse sua maneira de falar com Deus e para ver quando era a hora de fazer o que eles chamam de colheitas, rotação de culturas, todas essas coisas. Eles consultavam através da mãe ayahuasca para ver quando seria a hora de fazer as colheitas, todo esse tipo de coisa. Então, eles estão fazendo isso há muito tempo e, como os ocidentais meio que esbarraram nele e descobriram, então ela foi para saber como que era. Ela ficou lá por uma semana e, sabe, ela gosta muito de seus confortos.

Daniel: Foi uma coisa muito corajosa para ela, que foi sozinha. Agora, eu a conheço.

Leggy: É, não, como secador de cabelo. Sim, ela foi sozinha e ficou na selva por uma semana. Não falei com ela nem nada. Lembro de tê-la levado para o aeroporto. Eu estava tipo: “o que você está fazendo? Onde está indo? E ela disse: ‘eu vou para o Peru.'”

Daniel: Que coisa corajosa…

Leggy: Foi muito louco. Quero dizer, eu era realmente contra isso fundamentalmente na época porque era
assustador para mim porque tudo associado com substância estava no livro de coisas ruins, na época, no meu “Laggy ruim”. Sabe, a polaridade que eu criei… eu estava no único bom espaço no qual você precisava do controle de saber que os lugares em que você estava estava eram seguros porque havia controle. Eu não queria… A qualquer hora eu pegaria algo, significa que eu iria para o caos total, sabe, e então eu acabei por entrar na sobriedade absoluta da minha vida e foi trabalhando para mim em algum nível, então de qualquer maneira foi assustador quando ela começou a fazer isso porque ela nunca foi realmente uma drogada ou uma grande bebedora e tal. E ela, por algum motivo, tinha esse desejo de ir e fazer isso. E ela voltou e, definitivamente, isso a mudou de alguma forma e todo mundo estava falando sobre isso, e eu apenas lembro de estar muito afastado disso.
Eu realmente não entendia o que ela estava fazendo de qualquer maneira. Quando ela voltou para LA, ela estava tipo: “eu quero estar mais envolvida com isso”. Então, foi como uma experiência positiva. Foi muito difícil, acho que ela fez isso todas as noites por cinco dias seguidos.

Daniel: Há muita dor associada com isso, mas iluminação também sabe, mas é uma experiência difícil para seu corpo fazer toda noite.

Leggy: É quero dizer, a cerimônia ayahuasca pura… eu não fiz, apenas ayahuasca e o chá. Eu não tive um chamado para isso por causa de… mas eu conheço pessoas que têm e é o tipo de experiência que muda sua vida, mostra as coisas que você não pode ver dentro de si, sabe, que te guia para quem você é por trás de todas as barreiras que você cria como humano.

Quando você se machuca, e na vida, quando você comete erros ou você sente dor, você meio que gosta de construir essas barreiras em volta daquelas coisas, então você meio que tenta não fazer de novo, você tenta não entrar nisso que você acaba construindo uma espécie de barreiras psicológicas ao redor de todas as suas feridas, e isso pode afetar como você se conecta com as pessoas e como você é num relacionamento…

Então, ela encontrou um grupo aqui em LA através de um amigo nosso e é assim que nós conhecemos as pessoas com quem fazemos isso aqui, e então ela fez isso de novo por cerca de outros três anos sem…

Daniel: Sem você?

Leggy: Sim, sem mim . Ela estava conhecendo todas essas pessoas que ela literalmente iria em uma jornada na sexta-feira e, em seguida, trazia-os todos para casa no domingo, todo mundo. E ela se tornou melhor amiga dessas pessoas. “Essas são todas as pessoas que conheci em uma jornada”, e eu só ficava no canto, como uma farsa, sabe? Eu não conseguia compreender o que estava acontecendo, mas…

Daniel: Eu não sabia que você resistiu por três anos.

Leggy: Sim, porque eu estava com medo do que estava acontecendo, eu não queria olhar para qualquer uma dessas coisas no momento porque eu estava casado… Eu fui de festeiro totalmente louco para o então marido, bom homem, e eu não pude gerenciar como eu iria integrar esse tipo de coisas de volta, não fez sentido para mim que eu poderia fazer isso porque naquela época eu era um viciado, na minha mente, “eu sou um viciado, sempre sou um viciado”. Eu não vou ser capaz de apenas gostar de ter um pouquinho disso, sabe, mas então, lentamente, meu irmão fez isso e outros amigos nossos estavam fazendo isso e lá foi uma comunidade inteira começando, e então, eventualmente, eu fiquei: “eu acho que vou fazer isso”, eu estava pronto para fazer isso, e então a primeira vez que realmente fiz uma viagem estava com ela na minha casa com um grupo e foi louco, absolutamente louco. Mas foi como me lembro na época, eu descrevia como a melhor xícara de chá que você já tomou na vida porque, na época, o remédio era muito suave como remédio para o coração, então, da maneira que fazemos, não é uma cerimônia de ayahuasca pura, estou tagarelando aqui…

Daniel: Não, não é bom porque vamos usar a palavra ‘jornada’. Essa é uma jornada que é boa.

Leggy: Vai, vai.

(Risos)

Leggy: Essa é uma jornada.

Daniel: Você sabe mais as partes técnicas disso, eu apenas faço e vou junto com isso… (incompreensível)

Leggy: Então, a forma como viajamos por esse remédio através de um determinado xamã peruano com quem trabalhamos, ele faz o remédio e distribui através de seu currículo de treinamento para os facilitadores que mantêm grupos no oeste basicamente, então esse medicamento é único porque ele o faz e é meio que sintetizado com todas essas plantas diferentes para fazer medicamentos diferentes para um tipo de roda da fortuna, que é basicamente a roda da medicina que é o corpo, espírito, mente e coração sãos, esses são os quatro cantos do círculo. O que geralmente fazemos é começar com o remédio para o coração para começar a significar. Esse é um medicamento que vai permitir que você caio em um sentimento de tipo, espaço do coração que talvez você associe com o sentimento de quando você está apaixonado, quando você está se apaixonando, sabe?

Daniel: Então, é foi experiência inicial quando você faz isso?

Leggy: Eles me deram um remédio para o coração, que na época era kana.

Daniel: E o que você sentiu naquele momento?

Leggy: Eu senti, que me lembro vividamente, eu estava no meu outro estúdio e eu estava deitado e eu estava com minha mão no meu coração, que me disseram para fazer, e eu não sabia o que estava acontecendo.

Acontece que tínhamos uma coisa toda levando para cima, para onde estamos no círculo e um tipo de check-in e todas essas coisas. Eu era a única pessoa nova na época… Todo mundo estava lá, minha esposa, minha irmã. Todo mundo estava lá e eu estava tipo: “o que vai acontecer?” Eu só me lembro de esperar por isso para meio que entrar em ação e, logo fez muito sentido para mim, assim que comecei a sentir o início, entrei em uma total aceitação de mim, sabe, era quase como se eu pudesse abaixar as rédeas, como se eu estivesse segurando firmemente na minha sobriedade, e na minha vida nova que eu comecei, sabe que eu realmente não tinha meus olhos fechados o tempo todo.

Eu estava deitado no meu sofá no estúdio e eu estava com esse outro cara que estava lá, que ainda está na comunidade, e ele estava sentado comigo quando entrei, e ele estava com a mão em meu coração também, e ele era como um totem, ele era como um homem super sólido, e eu eu nunca vou esquecer de fazer isso com ele. Eu lembro que todo mundo estava desesperado para ver porque todos eles tinham feito isso e estavam: “como está o Leggy?”, e eu lembro que estava com minhas mãos no coração e eu abri meu olhos e havia dez pessoas olhando para mim: “como você está se sentindo agora?”

Daniel: De repente você tem um ponto de referência de como é.

Leggy: Basicamente eles dizem, e eu acredito, que quando você nasce é 100% eros, que é a força vital. Eros sendo a palavra grega para a vida e para o amor. E eu amo isso, quando você nasce é 100% força vital, e devagar, ao longo do tempo, começa a ganhar golpes e arranhões, queima sua mão no forno, todas essas coisas.

Daniel: Começa a mudar a maneira como se relaciona com o mundo.

Leggy: Exatamente, e a perder a conexão com aquele 100% de força vital que você é. Isso nunca vai embora, é como wifi, se você está em um quarto distante com quatro paredes não consegue um bom sinal. (Ininteligível)

Leggy: Está lá, mas você tem que remover as paredes para conseguir o sinal inteiro.

Daniel: Eu amo isso. Vou falar como cheguei nisso, quando nos aprofundamos. E acho que tem relação com algumas das coisas incríveis e profundas que presenciei outras pessoas alcançarem, e, de repente, você e eu também. Vou descrever brevemente como cheguei a esse ponto, que é bem similar. Eu estava passando por um término, um querido amigo nosso é terapeuta e começamos a conversar só como amigos, e ele me colocou no trabalho de equipe masculino. Ele sempre fazia referência a essa coisa de “jornada”, e eu ficava “isso não, do que é que ele está falando?”. E é uma pessoa que eu confiava, porque não era nada daquela porcaria de LA que eu associaria, coisas que eram completamente esotéricas, e fora da realidade. Começamos a conversar e ele só disse “confie em mim”, o que eu não fiz. Resisti por dois anos. Ouvi dizer que tinha uma parte de ayahuasca na jornada, e tinha uma pessoa com quem eu trabalhava que tinha tomado ayahuasca. Havia algo que eu desconfiava sobre ele, ou algo que desconfiava sobre o quão forte esse processo era, e não tinha interesse nenhum. Quando descobri que fazia parte, houve uma rejeição enorme, eu estava tipo “não preciso disso”. Já participei de programas de dependência e acho que muitas pessoas dizem isso, se conseguirmos ir mais fundo, iremos. “Não me envolva nisso.”

Leggy: Você estava sóbrio nessa época.

Daniel: Sim, quero dizer, eu não estava usando drogas ou álcool. Então, eventualmente, eu usei, e lembro de estar em Venice Beach… não em Venice Beach, mas uma vez foi feito lá. Tive uma experiência muito estranha pela primeira vez, porque senti o que você sentiu, uma sensação do seu coração se abrindo, e liguei isso a alguém durante a jornada. Basicamente, não tinha alguém lá para dizer “estou com você”. Associei isso a uma mulher, e era como uma rejeição se tornando incontrolável, porque nunca senti que tivesse todas essas emoções reconhecidas, e isso alimentou e eu tinha e girei…

Leggy: Caramba. Você estava se conectando com seu coração, pensando que era sobre essa garota.

Daniel: Sem álcool ou drogas, eu senti essa expansão, e normalmente associava a expansão com uma conexão com uma mulher, uma conexão sexual. O que pode se tornar confuso, porque você sente todas essas coisas e quer associar a alguma coisa, e o próximo passo lógico é o sexo.

Leggy: Isso pode acontecer muito.

Daniel: Claro.

Leggy: As pessoas ficam tipo, “uau!”.

Daniel: Sim, porque elas ficam “eu sinto boas sensações, e me sinto tão vulnerável!”.

Leggy: E você fica “então deve ser você”.

Daniel: Para resumir, minha verdadeira iniciação demorou anos. Continuei indo…

Leggy: Você foi muito longe na minha primeira vez.

Daniel: Eram três ou quatro jornadas e eu iria embora na metade. Na jornada, o objetivo é que no dia seguinte você continue no lugar, interaja e converse sobre, mas eu iria embora.

Leggy: Você voltava?

Daniel: Não.

Leggy: Só ia embora.

Daniel: Eu pulava, porque não entendia o objetivo dos ensinamentos, e, em minha mente, ficava dizendo “não vale a pena”. Houve uma intimidade para saber disso, e me levou algumas jornadas para entrar em contato com um pouco da dor que ocultei. Quando digo que você atravessa essa dor, não é como se estivesse morrendo, mas eu tinha essas lembranças da infância… especificamente, eu tinha uma lembrança de ir sozinho para a escola, eu colocava um moletom e costumava ficar envolvendo em meus dedos pelo caminho. Eu lembrei disso e fiz, houve uma ação repetitiva, havia algo nesse processo que era tipo “ah, há um acesso a uma sensação corporal armazenada desde a minha infância”. Foi quando senti que, para usar sua frase, eu compreendi, “isso é bem mais poderoso do que ficar chapado ou se sentir conectado”, foi tipo, boom, e me levou anos.

Leggy: Sério?

Daniel: Sim.

Leggy: Uau. Você usava outras substâncias ou só as fortes?

Daniel: Nós usamos ambos. Ele estava tipo, “vamos manter isso simples para começar, este é um pouco este é um caso um pouco desonesto”.

Leggy: É estranho o que acontece quando você meio que derruba as barreiras, essencialmente. É uma pena que você não tivesse naquele momento, enquanto acontecia, alguém para te dar uma referência do que estava acontecendo. Mas requer alguns obstáculos, acho que também é importante superá-las e aprender o que quer que você precise aprender. Acho que uma das coisas mais legais, você estava falando sobre sentir essas dores e experienciar a dor através da substância, e é isso que é legal especialmente sobre as substâncias fortes. É quase como ressaltar o trauma em você para que consiga falar sobre isso de maneira fluída, o que não consegue fazer no dia a dia. É como o que acontece no bar, nos velhos tempos, é isso que acontece lá. Se você desliga a dor, abre-se todo esse novo espaço, toda essa emoção que foi armazenada que você sabe diante de um tipo estoico como “está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem”.

Daniel: “Não estou sentindo nada.”

Leggy: E mesmo esse cara comum no bar, assim que ele começa a beber, todas as emoções são liberadas, tanto positivas quanto negativas. Por isso ocorrem tantas brigas quando as pessoas bebem, porque toda a emoção é disparada. Eu descreveria que é como fazer uma cirurgia, vamos dizer que você vai fazer uma cirurgia de ponte de safena, o coração de verdade, eles vão ter que anestesiar você, te colocam numa jornada de anestésicos. Porque se você for com um bisturi tentar fazer uma cirurgia no coração de alguém, vão ficar tipo “tire as mãos de mim!”.

Daniel: Absolutamente. Você está acalmando todos os sistemas de julgamento e resistência, é como acalmar seu sistema nervoso a um ponto em que ele consegue ver as coisas com muito mais clareza.

Leggy: O trauma é o barulho ao redor do evento, entende? Tipo “zzzz”, a cerca elétrica ao redor do que foi difícil para você, então você não consegue se aproximar. É um tipo de autossuficiente do trauma, porque, para curá-lo, precisa entrar em contato com ele. E aqui está uma maneira de fazer isso, nós nos conhecemos através desse trabalho, e foi meu modo de iniciar essa jornada, entrando de cabeça. Quase como fazer cem sessões de terapia em uma noite, você consegue ver e experienciar quem você é por baixo das paredes que construiu ao seu redor. Em uma noite, consegue ficar livre disso, e presenciar, você mesmo, como vai atuar se for… basicamente, como uma criança de novo, o jeito que as crianças se encontram tipo “oi, meu nome é Louis, qual o seu?”, sabe? Eles não estão nem aí, não se importam porque ainda não há nenhuma ferida, não há motivos para não sair por aí e falar oi para todo mundo. É o que todos estaríamos fazendo, adultos…

Daniel: Se pudéssemos.

Leggy: Se pudéssemos, se tivéssemos permissão para isso, nos conectaríamos, mas não fazemos porque estamos tão bloqueados.

Daniel: É engraçado, eu estava conversando com uma pessoa ontem e ela disse “quero fazer sozinha”, e eu entendo. Também entendo essa ideia de que “há tanta escuridão em mim, que não quero ir lá, a aproximação vai revelar essa coisa”. E revela, mas não de uma maneira que não te permite sentir ou reconhecer. Há pessoas que querem fazer sozinhas.

Acho que parte do que tenho visto é que fazer com pessoas é sobre mostrar para você, ter alguém que reflita sobre o que é esse sentimento de ser uma criança…

Leggy: “Sou Louis”.

Daniel: Para realmente praticar. Nessa conversa, vocês dois se aprofundam. Leggy e eu facilitamos a jornada e não usamos substâncias, então vemos muita gente fazer esse trabalho, há muitos padrões ao longo dos cinco anos em que assisti as pessoas entrando. Há muitos padrões que são sobre ver seus próprios padrões. E ter um ponto de referência… não está trabalhando sozinho, é que você vê com muito mais clareza.

Leggy: Acho que brincar é trabalhar também, outra coisa que aprendi com esse trabalho, que nós, como adultos, estamos loucos o tempo todo tentando alcançar, alcançar, alcançar, tentando entrar nesse espaço de sucesso, seja lá que isso significa. Acho que esquecemos o quão brincar é importante, é o que as crianças fazem, as crianças tem isso resolvido. Porque eles estão em seu próprio ritmo, não há julgamento, e nós julgamos como adultos porque temos uma ideia de como algo deve ser. Quando você vê algo sendo feito da maneira errada, entra em um paradoxo falho, porque fica… “você está fazendo isso de um modo totalmente diferente do meu, achei que essa era a maneira de fazer. Isso invalida o meu modo ou o seu? Alguém precisa estar errado aqui, os dois não podem estar certos”. Tentamos colocar tudo em caixas o tempo todo como adultos, o que só atrapalha tudo. Quanto mais você faz, mais entende. Acho que é por isso que as pessoas rejeitam também, quando fazem é quase demais, vejo com parceiros que trouxe após me divorciar, o que é parte da razão pela qual pedi o divórcio. Há tanto para dizer que é meio ridículo.

Daniel: Mudou profundamente nossas vidas, e introduzimos parceiros nisso. Esses parceiros tiveram sua própria relação e iniciaram suas próprias jornadas. Tudo, posso dizer com honestidade, foi profundo. E tem sido oficial.

….

Daniel: Obrigado por escutar este episódio de The 2 Lads Podcast. Essa conversa é contínua e envolve todos nós juntos, então adoraríamos ouvir de você. Nos conte se existe algum tópico sobre o qual gostaria que falássemos e o que acha da conversa até agora.

Leggy: The 2 Lads Podcast está disponível onde quer que escute podcasts, então, por favor, não esqueça de se inscrever para que não perca o próximo episódio. Nos dê uma avaliação de cinco estrelas, e conte para seus amigos sobre nós— tudo isso nos ajuda bastante. Nós somos muito gratos. Mandando muito amor para todos. Até a próxima.

Daniel: Sim, cara (lad).

Leggy: Sim, cara (lad).

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Tradução: Carolina & Diana.

Revisão: Angel